Rima Improvisada - Laboratório de Conhecimento
Através das Batalhas de Rima, foi possível
perceber o alcance exercido pelos princípios do Hip-hop na vida dos jovens que participam,
são práticas que acabam preenchendo algumas necessidades num determinado
momento, retirado para o lazer, necessidades estas possivelmente não
satisfeitas na escola, ou em outra situação convencional da sociedade.
O que notamos é que as batalhas de improviso, além
de inicialmente ser uma busca por um lazer gratuito, em um tempo em que se
divertir é quase sinônimo de pagar caro para tal, as batalhas de rima acabam
sendo um espaço para se buscar um determinado tipo de informação, uma busca
também pelo crescimento pessoal e pela cidadania, além, é claro, de ser uma
oportunidade de se expressar e praticar a comunicação com o outro, sem
constrangimentos.
Muitos que começaram através das batalhas, ouvindo
os Raps mais presentes na mídia, passaram a pesquisar os Raps menos conhecidos e
até a pesquisar outros estilos musicais. A busca pela informação e o
compartilhamento da mesma, nos dias de duelo, acaba trazendo uma maneira a mais
de pensar, talvez uma maneira não encontrada na família, na escola ou no
trabalho.
Na maioria desses eventos sociais, os jovens relatam
utilizar o aprendizado da batalha no dia a dia, de modo a serem mais proativos
quando precisam de uma informação, ou até mesmo durante o ato de ler um jornal
ou ver um programa de televisão com uma visão mais crítica e questionadora. Essas
demonstrações artísticas, políticas e culturais cheias de definição e carregadas
de informações do contexto histórico contemporâneo influenciam a vida e o
pensamento dos jovens que participam desta cultura.
Podemos citar a “Batalha do Conhecimento”
projeto desenvolvido e organizado pelo MC Marechal, como ele versa em “Griot”
(“As
batalhas falavam merda, eu fiz a do Conhecimento“),
o projeto une a música com a transformação cultural proposta pelas
raízes do Hip-Hop.
“Nas batalhas tradicionais, o improviso se limita a
uma disputa. Na Batalha do Conhecimento há uma reflexão conjunta que constrói
uma nova referência interna e externa, individual e coletiva. Como resultados
têm um banho de raciocínio lógico, rápido, criativo, somado à cultura
brasileira, ao aprofundamento e à reflexão dos assuntos”, explica Mc Marechal.
Diferente das competições
tradicionais, a Batalha do Conhecimento preza pelo uso criativo de palavras
pré-escolhidas e não necessariamente pelo deboche ao oponente; expressões são
escritas em um quadro e os MCs precisam se virar para usá-las nas suas rimas.
Além de tudo isso, a proposta promove a junção
entre as Artes Plásticas e o Rap.
Pela Batalha do Conhecimento também já passaram
grandes nomes do Hip-Hop nacional como Maomé, do
Cone Crew Diretoria, Nissin, do Oriente, Coé, AXL, Marcello Gugu, Mamuti, entre
outros.
-Essa abertura para novos artistas acabou fazendo
da Batalha do Conhecimento também um espaço de aprendizado profissional. A BdC
não é apenas um evento direcionado ao público, mas é principalmente um projeto
de qualificação da cena Hip Hop e um importante laboratório que estimula o
trabalho autoral dos MCs. Além disso, em tempos de tribos e facções, ela vem se
mostrando uma ferramenta de integração de grupos de jovens de diferentes
regiões da cidade.
Este projeto já teve algumas edições, e esta terça
feira dia 28 deu-se o retorno oficial, a partir das 16h30,
no próprio MAR (Museu de Arte do Rio), no Rio de Janeiro. Com entrada gratuita,
a disputa aconteceu em um palco montado no meio da exposição Deslize Surfe
e Skate. Este projeto acontece todas as terças.
Clique aqui
para ver o vídeo de chamada do retorno do projeto, no qual Mc Marechal convida todos
a participar.
Quer
saber mais sobre esse mundo da rima? Fica ligado, toda quinta tem postagem aqui
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