Cinema Underground: Onde os fracos não têm vez.

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Talvez a indústria em que o underground como estilo esteja mais escondido (e talvez por isso bem melhor preservado) seja na indústria do cinema. Com uma alta mercantilização e exposição dos filmes Hollywoodianos, a produção independente e mais visualmente agressiva ainda ocupa a periferia das locadoras e só pode ser achada, na internet, em sites especializados em cinema ou blogs underground.

O cinema underground começou a ganhar notoriedade nos anos 80, em que o gênero de horror (gênero com o qual o cinema underground trabalha muito) teve um revival depois de um período de latência de aproximadamente 30 anos. O uso de sangue gráfico e temas sobrenaturais e violentos, como possessões e fantasmas foram a marca da produção underground oitentista, que ganhou ares de “cinema de terror”.

Os anos 90 trouxeram novo vigor a produção underground independente, elevando algumas produções a verdadeiros fenômenos do cinema. O que dizer de Clube da Luta ou Cães de Aluguel, ambos filmes que têm temáticas underground e viraram grande sucesso de bilheteria e filmes favoritos da galera cult nos blockbusters? Pode-se perceber em ambos os casos, como os temas em voga na década de noventa (conflitos internos como depressão, a vida em grandes metrópoles, intrigas de espionagem internacional e violência explicita e gráfica) facilitaram uma maior inserção da produção underground no mercado comum. Além da conquista do espaço desse mercado, alguns filmes dos 90 entraram para listas de grandes filmes underground de blogueiros especializados no tema.

Um desses filmes, que eventualmente figura nas listas dos fãs de carteirinha de cinema underground é, com certeza, Begotten (1991, Estados Unidos). Produzido, escrito e dirigido por E. Elias Merhige, o filme é uma produção independente até a medula, com uma estética suja e com aparência de mal acabada para passar ao espectador o sentimento de sofrimento e angustia, mensagem que o diretor quis deixar clara a todo tempo. Todos esses elementos, além da admiração obscura que esse filme tem no cenário underground, o tornam notoriamente um dos grandes filmes do gênero de todos os tempos.
Cena do Filme Begotten, de E. Elias Merhige.

O filme não tem roteiro,apesar disso, consegue transmitir de maneira pungente sua história. Há apenas três personagens na história, como os créditos apontam ao final: “Deus”, a “Mãe natureza” e o “Filho da terra”. Deus morre no começo do filme, deixando uma terra a mercê da Mãe natureza, ou seja, entregue aos desígnios mais naturais e primitivos. A Mãe natureza aproveitando-se dos restos de Deus gera o Filho da terra, um ser aparentemente deformado e mentalmente deficiente que sofre ao longo de todo o filme, sendo sempre acompanhado por horrendas  criaturas sem face.

O filme é todo filmado em preto e branco e foi refotografado várias vezes para dar o acabamento final, com uma aparência de filme caseiro e com a fotografia bem arranhada. O diretor conta que, para cada minuto do filme, foram necessárias 10 horas para criar a aparência desejada.


Todos estes elementos fazem de Begotten um dos filmes favoritos do cenário Underground, que consegue manter um público fiel e sua produção independente mesmo através dos anos 2000, em que houve uma ofensiva Hollywoodiana de refilmagens e filmes “épicos”. Para um gênero que vive de mostrar o que as vezes é mais repugnante ou perturbador para a sociedade, o gênero Underground tem ido bem.

                                                                                  TOCA ALTERNATIVA.

Blog de Cultura Jovem

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